Amor, não dorme. É que na calmaria do seu sono reside minha angústia. É que depois de contar todas as sardas das suas costas, todos os pelos do seu peito e todas as suas tatuagens, tô quase indo embora.
O vento que bate na janela e balança a cortina sempre me pede baixinho para ficar. É nesse frio que me demoro mais cinco minutos no calor do teu abraço por baixo do edredom. Me demoro só mais hoje.
Por favor, não dorme. São nesses momentos de quietude que me pergunto que é que tô fazendo da minha vida. Que é que tô te deixando fazer da sua. É quando faço um carinho bobo no ruivo da sua barba, quando me espremo no cantinho do sofá só pra te deixar mais confortável. É aí que decido ficar só mais um pouco. Quando você fecha os olhos, abro a mente. E me pergunto onde é que foi parar aquela menina com a agenda cheia de baladas e o coração vazio de afeto. Às vezes até sinto saudade de mim. E levanto atordoada, calço os sapatos e pego as chaves. Depois desmorono no degrau entre a cozinha e a lavanderia e choro. Um choro baixinho, doído, insuportável por quase não ter motivo pra existir.
Você me faz feliz. E tudo isso é só minha forma de fugir do que realmente importa, das relações verdadeiras. Então, se eu puder te pedir só uma coisa, não dorme. É que no seu ronco alto e disforme que lembro do meu medo. Não de estar com você, mas de ter que relembrar como era não estar com você.
Acorda. Pra vida. Não dorme.