sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Os jogos da vida



Entro no fumódromo depois de enfrentar uma fila enorme e ser obrigada a beber o resto da minha água em três segundos. Com o cigarro na mão, procuro o isqueiro. De repente, surge uma chama na minha frente. Um cara qualquer, qualquer cara, tanto faz. Conversa vai, conversa vem. Próximo cigarro, e outro, e mais um, e mais outro, e quando vou ver já estou no sétimo tubinho de nicotina e ele me beija. 

Finjo que estou mais bêbada do que realmente estou. Não sei, acho que me divirto mais assim. E aí fico te ouvindo falar sobre como eu me destaquei no meio das outras garotas, como eu sou pequeinininha e fofinha e você queria me ter só pra ti. Rio por dentro. Não por acreditar, mas por já ter ouvido esse discurso tantas outras vezes de tantos outros caras. Por ter ouvido tantas amigas reclamando de desilusões amorosas que começaram da mesma forma. 

Você sabe que eu te quero hoje. Eu sei que amanhã você provavelmente não vá me querer. Mas você insiste em se fingir de encantado por mim, em fazer planos pra nós dois. Não caio, mas finjo que caio só pra não te desapontar. Homem tem essa coisa de querer muito voltar pra casa vitorioso por ter conquistado alguma garota, qualquer garota. 

A verdade é que não tô nem aí pra você. E o problema não é nem contigo, é com esse negócio todo que todo mundo diz sobre fazer joguinhos pra conquistar alguém. Se você quer muito alguém, então tem que fingir que não quer. Se você quer só por hoje, então faça planos e escolha o lugar onde passarão a lua de mel. Se você cansou, diga que precisa se afastar pra não se machucar demais. Mas nunca, em hipótese alguma, diga o que quer. Mesmo que todo mundo já saiba.

Nunca entendi porque preciso fingir que não sinto o que sinto só pra fazer com que alguém sinta o mesmo por mim. Se tô com vontade de falar com o cara, eu ligo. Se tô com saudade, convido pra sair. Se te quero hoje, não vou prometer ter mandar mensagem amanhã. Se não te quero mais, não vou mais te dar moral. Porque eu sou assim. Porque não quero que você queira algo que eu não sou e não quero diminuir o que sinto só pra caber dentro de uma relação, seja ela qual for. 

Entro no fumódromo depois de enfrentar uma fila enorme e ser obrigada a beber o resto da minha água em três segundos. Te olho, de canto de olho, me olhando. Com o cigarro na mão, finjo que procuro o isqueiro. Aí você entra em cena com uma chama na minha frente. Um cara qualquer, qualquer cara, tanto faz. Conversa vai, conversa vem, você me beija. E fala coisas lindas. E te acho um babaca por falar coisas lindas. E perco o tesão, a libido. E vou embora. Porque pra joguinhos eu não sirvo, não gosto assim.

2 comentários:

  1. Nem sei de como eu gosto que cheguem, ta sempre errado, brega. Mas nos filmes eu acho lindo...

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  2. Meu problema com o amor romantico é justamente a questao do fingimento que tudo começa... Depois eu tenho varios problemas com a monogamia, mas vou guardar esse comentario pra outro texto...

    Curti o blog ;)

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