Oi, estranho!
Tudo bem? Desculpa a demora em te escrever. É que desde que
eu percebi que eu não tenho mais nada seu em mim, você perdeu o encanto.
Claro que ainda dou aquele meu sorrisinho de canto de boca quando alguém
menciona o dia que nos reencontramos. Mas já não me faz mais o coração bater
mais forte e é óbvio que algum dia a gente vai se reencontrar de novo, mas
dessa vez eu acho que não vou esperar tanto. Mas não foi por isso que te
escrevi. Sei lá, queria saber da vida, deu saudade. É que te olhei nos olhos e
reparei que de fato você já me é estranho, mas ainda gosto de lembrar do
pouquinho que sei seu. Do pouquinho que você me mostrou da sua vida.
Você tem tomado seus remédios? Você sabe que sua imunidade
baixa precisa de bastante vitamina C. E não se esquece de visitar sua vó de
final de semana. Ela fica tão feliz. Ainda mais agora que ela tá tão sozinha. E
seus amigos, estão bem? Espero que ninguém tenha se afastado de você, sei como
você gosta tanto de ter todos eles por perto.
Sabe, por aqui tá tudo bom. Tá tudo bem. Eu tenho estudado
bastante. Trabalhado bastante. Nada demais. Acho que tá dando certo com um cara
aí, talvez eu goste um pouco dele. Mas não é isso que eu quero te contar. Na
verdade eu vim te perguntar se pra você eu também sou tão estranha. Eu não sei
nada da sua vida, nunca pude participar de nada, você nunca me incluiu nas
coisas, mas eu sempre fiz um puta esforço para que você entrasse na minha
rotina. E a dúvida é: você prestou atenção nela? Você prestou atenção em mim?
Você lembra que eu tô morrendo de medo de encarar os próximos dois anos da
faculdade? Lembra que tá muito difícil conciliar minha vida social com todo o
resto? Cê lembra que minhas gatas estão mais carentes que o normal e lembra que
eu tenho um trabalho gigante de fotografia para entregar semestre que vem? Você
lembra? Eu acho que não.
Mas no final, estranho, eu acho que tá melhor assim. É,
sabe, você pro seu lado, eu pro meu. Porque se já não deu certo uma vez, é
melhor não tentar. E se não deu certo antes, não vai dar certo agora e nem
depois. E, se não vai dar certo depois, eu não preciso mais criar expectativas.
Porque toda vez que eu crio expectativas, eu me decepciono. E toda vez que eu
me decepciono, a culpa é inteiramente minha.
Com amor,
Estranha
Texto lindo, como sempre.
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